MENSAGEM DE QUARESMA 2013
IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL
DIOCESE SUL-OCIDENTAL
Gabinete
do Bispo
Mensagem
de Quaresma
Mas a
sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada,
tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem
hipocrisia.(Tg 3:17)
Irmãos e Irmãs
Graça e Paz!
Nossa
diocese foi atingida nestes últimos dias por uma tragédia inimaginável. 238
jovens perderam a vida e outros 130 sofreram graves ferimentos. Este evento
traumático nos afetará por muitos anos ainda. Como Igreja, nos dedicamos a
oferecer solidariedade às familias e aos amigos das vítimas ajudando-as
espiritualmente e emocionalmente.
Ficam
lições importantes de tudo isso. A primeira lição foi a solidariedade. Em todos
os momentos após a tragédia foi um consolo ver a dedicação de pessoas em
oferecer seus conhecimentos e, mais que isso, seu trabalho incansável para que
toda a assistência pudesse ser oferecida às vitimas e suas familias.
A
segunda lição foi a criação de uma rede intercessória que reuniu Igrejas e
religiões em favor das famílias. Parece que Santa Maria renovou a fé e, diante
de tamanha tragédia, as pessoas se voltaram para Deus, cada uma em sua dor, na
busca de explicações, conforto e esperança.
A
terceira lição foi o despertar da consciência diante de uma tragédia que podia
ser evitada se não tivesse prevalecido o principio do lucro em detrimento de
políticas públicas de segurança. Há agora uma clara mobilização da sociedade
para que se cumpram regras de segurança mínima que garantam a integridade
física das pessoas. E, na esteria desta consciência desperta, há uma mudança de
atitude em relação à responsabilidade dos gestores públicos.
Esta
Quaresma que vamos iniciar deve se revestir de um caráter especial.
Liturgicamente ela é um período de introspecção. Um período que devemos nos
voltar com mais afinco para a leitura da Bíblia e para a oração. Estes dois
caminhos nos levam a compreender melhor a natureza de nosso Deus e
compreender a nossa própria natureza. E, se vamos honestamente nestas direções,
concluímos que estamos muito longe de sermos o que Deus espera que
sejamos.
Nossa
tendência natural é assumirmos uma postura de autosuficiência. Tudo podemos e
tudo queremos numa espiral que cresce vertiginosamente e que afeta nossas
relações com nosso próximo e com o mundo. Parece que as pessoas e as coisas só
tem importancia na medida em que nos satisfazem. E ai vem um falso conceito de
felicidade. Somos felizes na medida em que tudo acontece a favor de nossos
desejos e necessidades (as vezes falsas necessidades).
Devemos
estar conscientes, no entanto, de que não somos semi-deuses. Somos frágeis e as
leis da natureza bem como as leis espirituais não podem ser desconsideradas.
Precisamos viver de forma a não esquecermos que a vontade de Deus para nós é
que vivamos em harmonia conosco mesmos, com nossos semelhantes e com o próprio
Deus. Esta harmonia não é conseguida sem esforço, disciplina e abertura para o
que Deus pede de nós.
Nesta
Quaresma, irmãos e irmãs, somos desafiados a buscar a sabedoria divina para
dirigir nossas vidas. Esta sabedoria precisa ser adquirida para que nossos atos e palavras
tenham um tempero adequado que vai construir relações pessoais e sociais mais
saudáveis.
Nossa diocese precisa ser reavivada, não no sentido de um avivamento
emocional apenas, mas um reavivamento espiritual que faça com que vivamos a
nossa fé de forma integral. Inclusive com uma atitude diferente em relação ao
sofrimento. Não nos esqueçamos que a Quaresma desemboca na Semana Santa, onde o
próprio Filho de Deus assume as nossas dores. É importante lembrar que não
existe Páscoa sem Paixão.
Nosso clero precisa refletir sobre seus votos de ordenação e
avaliar o quanto está sendo fiel às promessas que foram feitas diante de Deus.
Até onde estamos cumprindo com a nossa vocação? Quais tem sido as nossas
prioridades como pastores e pastoras do rebanho de Cristo? Temos sido ministros
e ministras do povo de Deus ou de nós mesmos? Temos avaliado nossa agenda e
adequado às prioridades e necessidades do nosso rebanho?
Os leigos precisam refletir sobre a aliança batismal que os faz
"embaixadores de Cristo" conforme o apóstolo Paulo nos ensina. Qual
tem sido a nossa atitude como batizados? Estamos de braços abertos para acolher
as pessoas em suas necessidades? Temos cumprido nosso papel como servos fiéis,
ou somos relaxados com os dons que Deus nos dá para frutificar?
Estas questões estão colocadas à nossa frente para aprofundarmos a
nossa peregrinação quaresmal. Que possamos enfrentar estas questões tanto em
nossa devoção privada como em nossa devoção comunitária.
Que tenhamos uma abençoada Quaresma!
Que o Espírito Santo nos ilumine!
Francisco de Assis da Silva,
Bispo Diocesano
Jubal Pereira Neves, Bispo Emérito
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